Não pode ser esquecido o conceito de pobreza com que estamos trabalhando: o esfacelamento
do
ser humano em suas quatro áreas de relacionamento vital (com Deus,
consigo mesmo, com o próximo e com a criação). Não pode ser esquecido de
que, a partir deste pensamento, todos os seres humanos são, em alguma
medida, em alguma esfera, pobres, e necessitam de auxílio. É a partir
do conceito de pobreza que táticas podem ser elaboradas, implementadas e avaliadas.
O que é ter sucesso no aliviar o pobreza
do nosso próximo?
O apóstolo Paulo nos dá uma pista, na carta aos colossenses: "Pois foi
do agrado de Deus que nele [Jesus] habitasse
toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo
todas as coisas,
tanto as que
estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu
sangue derramado na cruz." (Cl 1.19-20). Se estamos falando de pobreza
como fruto advindo da ruptura com Deus (o pecado), a resposta para ela
então se faz através da reconciliação proposta por Deus na encarnação,
morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele é a resposta a pobreza nas
quatro esferas de relacionamento.
Não estamos
espiritualizando uma situação concreta. Estamos frisando que não existe
circunstância "não espiritual" e "não concreta". Não há separação entre
vida espiritual e vida mundana. Deus não está ausente
do
mundo de segunda a sábado, e trabalha apenas nas manhãs e noites
dominicais. Ele não é cego às obras das Suas mãos em nenhum momento.
Esta
noção já está presente de forma firme no Velho Testamento, inclusive
nos Salmos. Por que os poetas inspirados chamavam Yaveh de "meu Rei e
meu Deus"? Não era exatamente porque reconheciam a Sua soberania tanto
na "vida espiritual" (o relacionamento com Ele e conosco mesmos) quanto
na "vida concreta" (o relacionamento com o próximo e com a criação)?
Se foi
do
agrado de Deus que todas as coisas, no céu (as "espirituais") e na
terra (as "concretas"), fossem reconciliadas com Ele através de Cristo, o
apóstolo está nos ensinando que o Evangelho tem exigências à vida
política, às regras
do mercado, às normas culturais assim como tem ao jejum, à oração, ao estuda das Escrituras.
O
alívio da pobreza é um processo que engloba a todos, em um processo (ou
seja, não tem fim) em que todos se ajudam (o ajudador é edificado e
aprende com quem ajuda, seja em que área for) e que tem o Reino de Deus
que há de vir como modelo, e o Reino que já está entre nós como
impulsionador da relação de ajuda. O sucesso é medido pela adequação
gradativa de todos nas quatro áreas de relacionamento.
Na próxima semana vamos avaliar um caso concreto.
[adaptado
do livro "when helping hurts"]
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