Dentro
do conceito de pobreza que foi apresentado no artigo precedente, todos
os seres humanos são afetados pela queda de Adão e tem as quatro
áreas de relacionamento (com Deus, com o próximo, com eles mesmos e
com a natureza) profundamente atingidas, todo ser humano é, em
alguma medida, pobre. E as quatro áreas podem se influenciar
negativamente na geração da Pobreza (com “P” e não “p”,
para distinguir entre a pobreza no sentido ampla e a pobreza
econômica).
Vejamos
um caso concreto.
M é
uma moradora de uma área semelhante às favelas brasileiras. No seu
país, a poligamia é legítima (um costume herdado de séculos, que
todos lá consideram ser o modo natural de existir, “sempre foi
assim”). Seu marido tem outras mulheres, e M sofre com as
humilhações e com abusos físicos e morais. O sistema social em que
vive (que não é modificado por eleições) lhe diz que ela não tem
valor em si mesma, não merece educação formal de boa qualidade e
nem completa.
Motivada
a mudar de vida, necessita de 25 dólares para iniciar um negócio.
Consegue este valor apenas através de um agiota que lhe cobra 300%
de juros (negócio que somente pode prosperar em áreas onde o Estado
está ausente; onde não há linhas de crédito para situações
semelhantes). O negócio que inicia é a produção doméstica de
carvão – o que, aliás, é o trabalho de quase todos na favela
onde vive. Excesso de demanda, preço cai, não se sai da pobreza, e
ainda há uma dívida imensa a ser paga!
Em
função da sua Pobreza (falta de perceber-se uma pessoa que tem
valor em si mesma, com criatividade e capacidade de vislumbrar outras
opções de ação) afunda-se em uma atividade econômica sem futuro.
Buscando uma saída, vai a um feiticeiro (como é a cultura da sua
terra) para que este consiga uma intermediação com Deus para
aliviar seu fardo. Ele a informa que sua pobreza é fruto de antigas
raivas dos espíritos, e que estes demandam o sacrifício de um touro
para serem aplacados (no nosso Brasil não acontece algo semelhante
no assim chamado “mundo evangélico”?). Touro que ela tem que
comprar com o dinheiro que não tem.
Neste
caso, vemos como as quatro áreas atingidas pela queda estão
presentes e como nós podemos facilmente não vê-las, quando focamos
“pobreza” e não “Pobreza”. Quando pensamos em transformação
social como medidas isoladas de educação, assistência objetiva,
evangelização ou transformação social.
(adaptado
do segundo capítulo do livro “when helping hurts”
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