segunda-feira, 23 de março de 2015

Quem é o pobre? em estudo de caso

Dentro do conceito de pobreza que foi apresentado no artigo precedente, todos os seres humanos são afetados pela queda de Adão e tem as quatro áreas de relacionamento (com Deus, com o próximo, com eles mesmos e com a natureza) profundamente atingidas, todo ser humano é, em alguma medida, pobre. E as quatro áreas podem se influenciar negativamente na geração da Pobreza (com “P” e não “p”, para distinguir entre a pobreza no sentido ampla e a pobreza econômica).

Vejamos um caso concreto.

M é uma moradora de uma área semelhante às favelas brasileiras. No seu país, a poligamia é legítima (um costume herdado de séculos, que todos lá consideram ser o modo natural de existir, “sempre foi assim”). Seu marido tem outras mulheres, e M sofre com as humilhações e com abusos físicos e morais. O sistema social em que vive (que não é modificado por eleições) lhe diz que ela não tem valor em si mesma, não merece educação formal de boa qualidade e nem completa.

Motivada a mudar de vida, necessita de 25 dólares para iniciar um negócio. Consegue este valor apenas através de um agiota que lhe cobra 300% de juros (negócio que somente pode prosperar em áreas onde o Estado está ausente; onde não há linhas de crédito para situações semelhantes). O negócio que inicia é a produção doméstica de carvão – o que, aliás, é o trabalho de quase todos na favela onde vive. Excesso de demanda, preço cai, não se sai da pobreza, e ainda há uma dívida imensa a ser paga!

Em função da sua Pobreza (falta de perceber-se uma pessoa que tem valor em si mesma, com criatividade e capacidade de vislumbrar outras opções de ação) afunda-se em uma atividade econômica sem futuro. Buscando uma saída, vai a um feiticeiro (como é a cultura da sua terra) para que este consiga uma intermediação com Deus para aliviar seu fardo. Ele a informa que sua pobreza é fruto de antigas raivas dos espíritos, e que estes demandam o sacrifício de um touro para serem aplacados (no nosso Brasil não acontece algo semelhante no assim chamado “mundo evangélico”?). Touro que ela tem que comprar com o dinheiro que não tem.

Neste caso, vemos como as quatro áreas atingidas pela queda estão presentes e como nós podemos facilmente não vê-las, quando focamos “pobreza” e não “Pobreza”. Quando pensamos em transformação social como medidas isoladas de educação, assistência objetiva, evangelização ou transformação social.

(adaptado do segundo capítulo do livro “when helping hurts”

Nenhum comentário:

Postar um comentário