sábado, 21 de dezembro de 2013

O espaço de vida do Agente de Segurança Penitenciária no cárcere: entre gaiolas, ratoeiras e aquários.


Arlindo da Silva Lourenço

O objetivo da pesquisa foi estudar a psicologia dos Agentes de Segurança Penitenciária (ASPs), como integrantes de um grupo profissional no exercício de sua função no interior do cárcere.

O referencial teórico foi a Teoria de Campo de Kurt LEWIN, com destaque para os conceitos de espaço de vida, pessoa e ambiente, regiões, barreiras, locomoção e tempo.

O objeto de estudo foi 27 ASPs de duas Penitenciárias masculinas do Estado de São Paulo. Esses agentes foram observados em três situações de trabalho, especialmente nas portarias e nas gaiolas das penitenciárias, durante 120 horas, ou dez plantões. As observações, de matiz etnográfico, que incluíram ações, gestos, palavras e ambiente físico, foram registradas em cadernos de campo. A análise das observações foi realizada mediante a leitura dos conceitos lewinianos, subsidiada por outros estudos das prisões e das relações grupais no interior do cárcere.

A sistematização das análises permitiu inferir que:
i) o ambiente das prisões não é apenas perigoso e insalubre, como também lugar de trabalho precarizado e pauperizado,
ii) as pessoas dos ASPs ressentem-se da condição inadequada de trabalho, mas poucos conseguem, no sentido da transformação do ambiente,
iii) as más condições de trabalho levam à precarização da própria existência pessoal dos ASPs,
iv) o ambiente da prisão leva à vitimização das pessoas, sejam funcionários ou presos.

Os resultados foram discutidos à luz dos conceitos enunciados, que permitiram esclarecer, do ponto de vista psicossocial, o exercício da função do ASP como identidade profissional paradoxal: ora agente repressor, ora agente ressocializador. Essa ambiguidade característica resulta de uma situação de equilíbrio precário entre regiões de valências opostas e entre forças de natureza diversa, além de ser resultante da interação com o ambiente, que inclui o grupo dos ASPs e o grupo dos presos.










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