segunda-feira, 9 de julho de 2018

Desilução política e fé cristã - um relato de um encontro

No dia 30 de junho ocorreu mais um evento do projeto “quem tem medo de bicho-papão”. O tema da vez foi “desilusão política e fé cristã”. O evento foi coordenado pelo Felipe Cavalcante da Costa, e o convidado foi o pastor batista José Barbosa Jr. Abaixo, seguem anotações tomadas durante o evento, que contou com a presença de 17 pessoas. Aguardamos em breve o vídeo que trará a discussão na íntegra.



Segundo Ruben Alves, o político é um jardineiro, já que Deus criou um jardim, e não uma cidade.  E o jardineiro em a possibilidade de transformar o sonho de um jardim em um jardim de verdade. O jardineiro vocacionado trabalha por amor; o profissional, pelo dinheiro. E para que a sociedade seja um verdadeiro jardim,  o político deve ser o vocacionado, e não o profissional - porque este é um gigolô, movido pelo dinheiro que lhe chega às custas do outro. A luta hoje é entre o amante e o gigolô, entre o político vocacionado e o profissional. E os vocacionados muitas vezes se escondem, com temor de serem vistos como profissionais. E no Brasil há muito jardim privado, e pouco público…Há muito jardineiro que pode se doar para a comunidade.
Evangelho e política estão entrelaçados. O termo evangelho, “boa nova”, era aplicado aos pronunciamentos do imperador. O evangelho anuncia um Reino (termo político), um Senhor (termo político).
E, sociologicamente, o homem é político e religioso, mesmo que alguém negue essas faces inseparáveis.
O descrédito com a política é um projeto de poder. E reencantar com a política é um projeto de poder de oposição ao primeiro.
O descrédito também passa pelo fato das pessoas terem coragem, hoje, de assumirem posturas que antes eram vergonhosas: machismo, racismo, homofobia…
O evangelho traz esperança à medida que proclama a dignidade de todas as pessoas. Quando Jesus expulsa o demônio para uma manada de porcos, que se atira ao mar, Ele faz uma denúncia política. O demônio se chamava “legião” (termo aplicado à divisão maior do exército romano), é enviado a animais impuros (remetendo à religião). E no sermão escatológico quando Ele fala sobre o julgamento final, é um julgamento das nações, e não das pessoas - é um julgamento sobre decisões políticas das nações onde Jesus Se coloca como o oprimido, faminto, pobre, doente.
O livro do Apocalipse, se estudado corretamente, é um antídoto contra o desânimo.
Pode a igreja evangélica influir nas eleições deste ano? Teoricamente, 28% da população pode eleger o presidente, ou metade do congresso. O que é o projeto de poder da assim chamada “bancada evangélica”.
Demoniza-se as religiões de matriz africana, o que é resquício da escravidão. É hipocrisia encher a bilheteria de filme do Thor (deus pagão da mitologia nórdica, branco, de olhos azuis), mas não se pode comprar um boneco de Ogum ou Xangô (deuses da mitologia africana, negros, de cabelos crespos).
Muitas vezes os políticos chegam com respostas prontas para perguntas que não foram feitas. Assim como a igreja...Jesus interage com as pessoas e Suas ações são consequência desse diálogo, onde Ele serve, e não é servido.
A cultura do ódio dá dinheiro, mas o Evangelho de amor não!
O poder não corrompe, apenas demonstra quem é corrupto. Prestar contas, cercar-se de pessoas críticas, ser humilde no trabalho é um fator de proteção para o vocacionado (o amante, aquele que ama) não se tornar o profissional (o gigolô, aquele que se aproveita do outro)..
As falhas do jardim, do seu projeto, devem ser sempre denunciadas, em prol da transparência e dignidade.
Quando há crimes de ódio (feminicídio, assassinato de homossexuais) e a igreja se cala, não é uma postura política?
O pastor tem o público que todo político sonha: pessoas que estão dispostas a acreditar nele, e pior, acreditar que Deus é que fala. E o clérigo está em uma estrutura de poder que não é questionada.

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