No
dia 30 de junho ocorreu mais um evento do projeto “quem tem medo de
bicho-papão”. O tema da vez foi “desilusão política e fé
cristã”. O evento foi coordenado pelo Felipe Cavalcante da Costa,
e o convidado foi o pastor batista José Barbosa Jr. Abaixo, seguem
anotações tomadas durante o evento, que contou com a presença de
17 pessoas. Aguardamos em breve o vídeo que trará a discussão na
íntegra.
Segundo
Ruben Alves, o político é um jardineiro, já que Deus criou um
jardim, e não uma cidade. E o jardineiro em a possibilidade de
transformar o sonho de um jardim em um jardim de verdade. O
jardineiro vocacionado trabalha por amor; o profissional, pelo
dinheiro. E para que a sociedade seja um verdadeiro jardim, o
político deve ser o vocacionado, e não o profissional - porque este
é um gigolô, movido pelo dinheiro que lhe chega às custas do
outro. A luta hoje é entre o amante e o gigolô, entre o político
vocacionado e o profissional. E os vocacionados muitas vezes se
escondem, com temor de serem vistos como profissionais. E no Brasil
há muito jardim privado, e pouco público…Há muito jardineiro que
pode se doar para a comunidade.
Evangelho
e política estão entrelaçados. O termo evangelho, “boa nova”,
era aplicado aos pronunciamentos do imperador. O evangelho anuncia um
Reino (termo político), um Senhor (termo político).
E,
sociologicamente, o homem é político e religioso, mesmo que alguém
negue essas faces inseparáveis.
O
descrédito com a política é um projeto de poder. E reencantar com
a política é um projeto de poder de oposição ao primeiro.
O
descrédito também passa pelo fato das pessoas terem coragem, hoje,
de assumirem posturas que antes eram vergonhosas: machismo, racismo,
homofobia…
O
evangelho traz esperança à medida que proclama a dignidade de todas
as pessoas. Quando Jesus expulsa o demônio para uma manada de
porcos, que se atira ao mar, Ele faz uma denúncia política. O
demônio se chamava “legião” (termo aplicado à divisão maior
do exército romano), é enviado a animais impuros (remetendo à
religião). E no sermão escatológico quando Ele fala sobre o
julgamento final, é um julgamento das nações, e não das pessoas -
é um julgamento sobre decisões políticas das nações onde Jesus
Se coloca como o oprimido, faminto, pobre, doente.
O
livro do Apocalipse, se estudado corretamente, é um antídoto contra
o desânimo.
Pode
a igreja evangélica influir nas eleições deste ano? Teoricamente,
28% da população pode eleger o presidente, ou metade do congresso.
O que é o projeto de poder da assim chamada “bancada evangélica”.
Demoniza-se
as religiões de matriz africana, o que é resquício da escravidão.
É hipocrisia encher a bilheteria de filme do Thor (deus pagão da
mitologia nórdica, branco, de olhos azuis), mas não se pode comprar
um boneco de Ogum ou Xangô (deuses da mitologia africana, negros, de
cabelos crespos).
Muitas
vezes os políticos chegam com respostas prontas para perguntas que
não foram feitas. Assim como a igreja...Jesus interage com as
pessoas e Suas ações são consequência desse diálogo, onde Ele
serve, e não é servido.
A
cultura do ódio dá dinheiro, mas o Evangelho de amor não!
O
poder não corrompe, apenas demonstra quem é corrupto. Prestar
contas, cercar-se de pessoas críticas, ser humilde no trabalho é um
fator de proteção para o vocacionado (o amante, aquele que ama) não
se tornar o profissional (o gigolô, aquele que se aproveita do
outro)..
As
falhas do jardim, do seu projeto, devem ser sempre denunciadas, em
prol da transparência e dignidade.
Quando
há crimes de ódio (feminicídio, assassinato de homossexuais) e a
igreja se cala, não é uma postura política?
O
pastor tem o público que todo político sonha: pessoas que estão
dispostas a acreditar nele, e pior, acreditar que Deus é que fala. E
o clérigo está em uma estrutura de poder que não é questionada.
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