segunda-feira, 11 de junho de 2018

CARTA ABERTA DO SERVIÇO ASSISTENCIAL DORCAS ÀS IGREJAS E Á SOCIEDADE EM GERAL - SOBRE O SUICÍDIO





O Serviço Assistencial Dorcas, entidade cristã de caráter humanitário, sediada em Belo Horizonte (MG), composto por profissionais de diversas áreas, após ter patrocinado em duas ocasiões debate sobre o suicídio, compartilha com as igrejas cristãs e as suas lideranças as seguintes preocupações:



1. o suicídio é um fenômeno social, não há como ignorá-lo. A Organização Mundial da Saúde estima em 800.000 mortes anuais por esta razão, sendo a 15ª causa de óbito para a população em geral. E quando se restringe o olhar para a faixa etária entre 15 e 29 anos, torna-se a segunda causa de morte. Como é um evento provavelmente subnotificado (nem todos são contabilizados, por serem ocultados em função do preconceito e vergonha) o número de pessoas atingidas deve ser maior.



2. os dados do ministério da saúde mostram que o suicídio, ou sua tentativa, não está limitado a um gênero específico (homens e mulheres são afetados), ou a uma idade determinada, ou a uma profissão específica.



3. não há nenhuma característica que, genericamente, confira proteção absoluta a uma pessoa, e pensar em autoextermínio ao menos uma vez na vida ocorre com um grande número de pessoas.



4. nas igrejas cristãs, principalmente as evangélicas, não é incomum o preconceito, o estigma contra a pessoa que tenta ou que consegue se matar. A experiência compartilhada dos membros do Serviço Assistencial Dorcas é que essas pessoas são vistas não como seres humanos normais, mas pecadoras de uma forma tão especial que são postas fora do alcance do cuidado Divino (que se materializa e se torna real através da ação de Suas filhas e filhos adotivos).



5. esta carta é para chamar a todos os cristãos, e, por que não, a todos os que professam qualquer religiosidade (seja deísta, ateísta, materialista, etc.) a:
a) estudar e se informar sobre o suicídio de modo aberto, não preconceituoso;
b) perceber que qualquer pessoa, em determinado momento de sua existência, na dependência de fatores de pressão dos quais não consegue se livrar, pode ser levada a este ato;
c) ter um olhar de misericórdia e não de condenação a estas pessoas.



6. aos cristãos em especial propomos, tendo as Sagradas Escrituras abertas frente aos nossos corações, avaliar:
a) os preconceitos que temos sobre este assunto
b) as posições teológicas aceitas como verídicas sem uma análise aprofundada
c) se não pecamos:
c.1) na nossa forma de organização como igreja
c.2) no nosso modo de nos relacionarmos uns com os outros
c.3) na preocupação excessiva com o comportamento correto do próximo no lugar da preocupação adequada e amorosa para com as dificuldades e fraquezas mútuas;
c.4) contra nossos líderes e nossos pastores
- ao idealizá-los, fazendo-os ídolos de perfeição no lugar de pessoas pecadoras e redimidas que também estão em busca permanente de santificação
- ao sobrecarregá-los de tarefas e trabalhos que outros podem assumir;
- ao não respeitar seus dias semanais de descanso e seus períodos de férias regulares;
- ao não lhes proporcionar apoio psicoterápico especializado quando necessário
- ao não lhes proporcionar ombro amigo e discreto através de um ambiente de comunhão confiante onde eles possam ser eles mesmos e se exporem sem receio de críticas ou de perda de emprego ou status.



7. O Serviço Assistencial Dorcas, com o intuito de buscar uma melhor saúde coletiva, entende ser imprescindível:
a) a criação de espaços de discussão sobre o tema, a fim de quebrar mitos e reforçar verdades deste fenômeno tão presente na atualidade.
b) compreender as atitudes a serem tomadas ao encontrar pessoas nessa situação de risco
c) ao detectar risco de suicídio garantir o suporte pastoral e profissional (psicólogos e psiquiatras) - este último através da Rede de Atenção do Sistema Único de Saúde.
d) garantir suporte à família de pessoas que tentaram e/ou consumaram o autoextermínio, com o intuito de aliviar o sofrimento, que pode perdurar por anos se não tratado adequadamente



Belo Horizonte, 10 de junho de 2.018

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