O
Serviço Assistencial Dorcas, entidade cristã de caráter
humanitário, sediada em Belo Horizonte (MG), composto por
profissionais de diversas áreas, após ter patrocinado em duas
ocasiões debate sobre o suicídio, compartilha com as igrejas
cristãs e as suas lideranças as seguintes preocupações:
1.
o suicídio é um fenômeno social, não há como ignorá-lo. A
Organização Mundial da Saúde estima em 800.000 mortes anuais por
esta razão, sendo a 15ª causa de óbito para a população em
geral. E quando se restringe o olhar para a faixa etária entre 15 e
29 anos, torna-se a segunda causa de morte. Como é um evento
provavelmente subnotificado (nem todos são contabilizados, por serem
ocultados em função do preconceito e vergonha) o número de pessoas
atingidas deve ser maior.
2.
os dados do ministério da saúde mostram que o suicídio, ou sua
tentativa, não está limitado a um gênero específico (homens e
mulheres são afetados), ou a uma idade determinada, ou a uma
profissão específica.
3.
não há nenhuma característica que, genericamente, confira proteção
absoluta a uma pessoa, e pensar em autoextermínio ao menos uma vez
na vida ocorre com um grande número de pessoas.
4.
nas igrejas cristãs, principalmente as evangélicas, não é incomum
o preconceito, o estigma contra a pessoa que tenta ou que consegue se
matar. A experiência compartilhada dos membros do Serviço
Assistencial Dorcas é que essas pessoas são vistas não como seres
humanos normais, mas pecadoras de uma forma tão especial que são
postas fora do alcance do cuidado Divino (que se materializa e se
torna real através da ação de Suas filhas e filhos adotivos).
5.
esta carta é para chamar a todos os cristãos, e, por que não, a
todos os que professam qualquer religiosidade (seja deísta, ateísta,
materialista, etc.) a:
a)
estudar e se informar sobre o suicídio de modo aberto, não
preconceituoso;
b)
perceber que qualquer pessoa, em determinado momento de sua
existência, na dependência de fatores de pressão dos quais não
consegue se livrar, pode ser levada a este ato;
c)
ter um olhar de misericórdia e não de condenação a estas pessoas.
6.
aos cristãos em especial propomos, tendo as Sagradas Escrituras
abertas frente aos nossos corações, avaliar:
a)
os preconceitos que temos sobre este assunto
b)
as posições teológicas aceitas como verídicas sem uma análise
aprofundada
c)
se não pecamos:
c.1)
na nossa forma de organização como igreja
c.2)
no nosso modo de nos relacionarmos uns com os outros
c.3)
na preocupação excessiva com o comportamento correto do próximo no
lugar da preocupação adequada e amorosa para com as dificuldades e
fraquezas mútuas;
c.4)
contra nossos líderes e nossos pastores
-
ao idealizá-los, fazendo-os ídolos de perfeição no lugar de
pessoas pecadoras e redimidas que também estão em busca permanente
de santificação
-
ao sobrecarregá-los de tarefas e trabalhos que outros podem assumir;
-
ao não respeitar seus dias semanais de descanso e seus períodos de
férias regulares;
-
ao não lhes proporcionar apoio psicoterápico especializado quando
necessário
-
ao não lhes proporcionar ombro amigo e discreto através de um
ambiente de comunhão confiante onde eles possam ser eles mesmos e se
exporem sem receio de críticas ou de perda de emprego ou status.
7.
O Serviço Assistencial Dorcas, com o intuito de buscar uma melhor
saúde coletiva, entende ser imprescindível:
a)
a criação de espaços de discussão sobre o tema, a fim de quebrar
mitos e reforçar verdades deste fenômeno tão presente na
atualidade.
b)
compreender as atitudes a serem tomadas ao encontrar pessoas nessa
situação de risco
c)
ao detectar risco de suicídio garantir o suporte pastoral e
profissional (psicólogos e psiquiatras) - este último através da
Rede de Atenção do Sistema Único de Saúde.
d)
garantir suporte à família de pessoas que tentaram e/ou consumaram
o autoextermínio, com o intuito de aliviar o sofrimento, que pode
perdurar por anos se não tratado adequadamente
Belo
Horizonte, 10 de junho de 2.018
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