As três formas anteriores de promoção humana, a
compaixão, o ensino e o estar comprometido com, não fazem uma pergunta:
por que existem necessitados? Alguns, talvez até de forma não muito
honesta, tiram a frase de Jesus do contexto e explicam que "os pobres
sempre tereis convosco" - é como dizer, faz parte da natureza das coisas
haver necessitados e não necessitados.
Mas uma observação
mais detalhada de como funciona nossa sociedade mostra que há relações
sociais injustas. Uma simples de ser percebida: os brasileiros de origem
negra são, em sua maioria, a parcela da população de menor poder
aquisitivo porque seus antepassados não escolheram vir ao Brasil: foram
sequestrados e, se sobreviveram, vendidos como escravos. E após a
abolição dessa instituição infame, não havia lugar para o ex-escravo
trabalhar, pois a mão de obra imigrante havia chegado. E quem os educou
ou lhes deu emprego, ou terra?
As relações sociais injustas
permanecem por razões complexas, inclusive pela incapacidade dos
envolvidos, sejam oprimidos, sejam opressores, de se enxergarem nestes
papeis.
A capacidade de oprimir é grande. Oprime-se quando
se impede o acesso à justiça (e se a gratuita for pequena frente à
demanda, paciência...), quando as forças públicas deixam a legalidade
nas suas ações (quantos Amarildos vai haver?), quando o emprego somente é
pensado enquanto gerador de lucro e não de vida, quando grupos de
comunicação não são isentos em sua atividade e servem como agentes de
propaganda do partido político no poder (sendo remunerados pela
divulgação da propaganda oficial), quando pesquisas médicas são
realizadas em seres humanos sem seguir a legislação que os protege...
Consegue pensar em outras opções?
Os criativos são aqueles
que se propõe a imaginar formas de sair da situação engessada rumo a uma
sociedade mais justa. Para tal, avaliam, em conjunto com os oprimidos, e
aprendendo com eles, qual é a realidade vivenciada por eles. A partir
daí, analisam, em conjunto, de forma crítica, esta realidade e partem,
baseados na justiça, para a participação solidária e reivindicatória,
pressionando as estruturas injustas rumo às mudanças necessárias. Os
criativos não tomam à frente, mas estimulam, apoiam e lutam junto.
do livro "Promoção humana: princípios e práticas numa perspectiva cristã", edições paulinas
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